Tom nasceu com um defeito cardíaco congénito comum, que foi corrigido cirurgicamente na infância. Mas no ano passado, aos 20 anos, começou a vomitar e tossir. Ficou sem fôlego e desenvolveu febre e diarreia. Tom sabia que algo estava muito errado, mas achava que os hospitais estavam apenas a tratar doentes com Covid-19 e, com medo da pandemia, aguentou durante semanas. Quando finalmente foi para o King’s College Hospital, em Londres, descobriu-se que tinha um sopro no coração causado por uma infeção numa das suas válvulas cardíacas. Os médicos fizeram tudo o que podiam, mas o seu coração começou a bater cada vez mais devagar até que teve uma paragem cardíaca e morreu. ‘You Can’t Pause a Heart’ [ ‘Não pode pôr o coração em pausa’ ] é o mote de um campanha que quer prevenir casos como este.
“Esta é uma história muito trágica”, conta Eva Toth, cardiologista que diagnosticou o problema cardíaco de Tom. “Se ele tivesse procurado ajuda mais cedo, as suas hipóteses de sobrevivência teriam sido muito maiores.”
Luke Dancy, também cardiologista envolvido nesta história, considera que “a combinação de medo devido à COVID-19 e desinformação sobre o que estava disponível manteve Tom longe do único lugar onde a sua vida poderia ter sido salva”.
Tom não está sozinho. Desde o início da pandemia de COVID-19 que houve uma redução acentuada nas admissões por síndrome coronária aguda, não só em Inglaterra, mas em muitos outros países. E, em vez de ligarem para o 112, pessoas com este problema provavelmente progrediram para um ataque cardíaco em casa, o que tem um enorme impacto negativo na sua possibilidade de sobrevivência.
Existe uma janela ideal para tratar situações cardíacas de emergência. Quanto mais tempo uma emergência cardíaca ficar por tratar, pior pode ser o resultado, sobretudo em situações de confinamento, quando os doentes demoram a procurar atendimento médico: estima-se que até 48% atrasam o tratamento além da janela de atendimento ideal.
Resultados semelhantes foram encontrados num estudo global realizado pela Sociedade Europeia de Cardiologia, que inquiriu 3.101 médicos e enfermeiras de hospitais em 141 países, com a maioria dos entrevistados a confirmar que o número de doentes com ataque cardíaco que procuram atendimento hospitalar de urgência caiu mais de 50% durante o surto de COVID-19.
‘You Can’t Pause a Heart’ [ ‘Não pode pôr o coração em pausa’ ] é a nova campanha de consciencialização pública da Sociedade Europeia de Cardiologia (SEC), que apela a qualquer pessoa com problemas cardíacos, sobretudo aos com sintomas de ataque cardíaco, a procurar atendimento sem demora.
Stephan Achenbach, presidente da SEC, não tem dúvidas: “as pessoas não devem esperar. Chame uma ambulância se tiver sintomas de ataque cardíaco, como pressão ou sensação de queimadura no peito, ou uma dor inexplicável na garganta, pescoço, costas, estômago ou ombros que dure mais de 15 minutos. O tratamento rápido pode salvar a sua vida. Para doentes como Tom, que vivem com doenças cardíacas, é essencial continuar os tratamentos prescritos e as consultas médicas regulares, e obter ajuda desde o início se a sua condição piorar. Não deixe que a pandemia o impeça de obter a ajuda de que precisa”.