Todos nós temos stress na vida, causado por problemas financeiros, pressões no trabalho, questões amorosas, doenças ou até mesmo catástrofes naturais ou crises de saúde, como é o caso do coronavírus. Para algumas pessoas que sobrevivem a um enfarte, o stress mental, em oposição ao físico, pode prever um novo evento cardíaco, confirma agora um estudo.
Investigadores da Emory University, nos Estados Unidos, procuraram perceber se a isquemia do miocárdio, ou seja, quando o fluxo sanguíneo para o coração é reduzido, impedindo o músculo cardíaco de receber oxigénio suficiente, induzida pelo stress mental está associada a maus resultados entre os sobreviventes de enfarte e como é que esse tipo de stress se compara ao stress convencional causado pelo exercício.
Entre os mais de 300 indivíduos jovens e de meia-idade incluídos no estudo, aqueles que sofreram isquemia do miocárdio com stress mental apresentaram uma probabilidade duas vezes maior de sofrerem outro enfarte ou de morrerem de doença cardíaca.
“No nosso estudo, a isquemia do miocárdio provocada pelo stress mental foi um indicador de risco maior do que o verificado com o esforço físico”, explica Viola Vaccarino, principal investigadora do estudo, acrescentando que este é o único trabalho do género feito nesta população adulta relativamente jovem de sobreviventes de enfarte.
Dados que, acrescenta, “apontam para o importante efeito que o stress psicológico pode ter no coração e no prognóstico de pessoas com doença cardíaca. Isso dá-nos uma prova tangível de como o stress psicológico, que não é abordado especificamente nas diretrizes clínicas atuais, pode realmente afetar os resultados”.
De tal forma que ter em conta o stress psicológico dos doentes pode ajudar os médicos a avaliar melhor o risco de enfartes recorrentes ou morte, observados em alguns doentes que sobrevivem a um ataque cardíaco.
Risco de enfarte a subir
Foram, ao todo, estudados 306 adultos com idade igual ou inferior a 61 anos (em média 50 anos), que estiveram no hospital na sequência de um enfarte nos últimos oito meses.
Os participantes foram recrutados na área metropolitana de Atlanta, EUA, e representaram um grupo diversificado de pessoas: metade eram mulheres e 65% eram afro-americanos.
Todos foram submetidos a dois tipos de teste de stress para examinar o fluxo sanguíneo para o coração: teste de stress mental, provocado por uma fala com conteúdo emocional diante de uma plateia intimidatória e aparentemente desinteressada, e um teste convencional de stress, com exercício.
Os doentes foram acompanhados ao longo de três anos para verificar a ocorrência de um enfarte repetido ou morte cardiovascular.
E os resultados mostram que a incidência de enfarte ou morte relacionada com doenças cardiovasculares mais do que duplicou nas pessoas com isquemia induzida por stress mental, quando comparando com os restantes.