
Com uma taxa de sobrevivência a cinco anos de apenas 13%, o cancro do pâncreas é um dos mais mortais. Trata-se de uma doença que não costuma causar sintomas senão quando já existem metástases, sendo a cirurgia, a radioterapia e a quimioterapia as formas atuais de tratamento, mas que apenas conseguem prolongar a vida, raramente proporcionando uma cura. Isso pode, no entanto, vir a mudar, já que uma equipa de investigadores da Case Western Reserve University e da Cleveland Clinic, nos EUA, está a desenvolver vacinas contra o cancro do pâncreas que podem eliminar a doença, deixando o doente livre de cancro. Os resultados têm sido, até ao momento, muito animadores.
O engenheiro biomédico Zheng-Rong Lu mostrou-se entusiasmado com a resposta em modelos pré-clínicos de adenocarcinoma ductal, a forma mais comum do cancro do pâncreas. “O cancro do pâncreas é extremamente agressivo”, afirma Lu, professor de Engenharia Biomédica na M. Frank Rudy e Margaret C. Rudy na Case School of Engineering. “Por isso, foi uma surpresa que a nossa abordagem funcionasse tão bem.”
Mais de metade estava completamente livre de cancro meses depois, um resultado que disse nunca ter visto antes.
Lu juntou-se à imunologista Li Lily Wang, professora associada de medicina molecular na Case Western Reserve School of Medicine, para desenvolver nanopartículas de vacinas com antigénios, ou seja, marcadores que identificam para o sistema imunitário se algo no corpo é prejudicial. As vacinas que desenvolveram produzem imunidade anticancerígena.
“Esta plataforma tem o potencial de transformar o tratamento clínico para esta doença devastadora”, confirma Wang. “Estou entusiasmada por ver que a nossa nova nanovacina funcionou tão bem na indução de respostas vigorosas de células T reativas a tumores, que são normalmente baixas em número e incapazes de controlar o crescimento tumoral.”
Resultados animadores na luta contra o cancro do pâncreas
Há mais de duas décadas que Lu trabalha com nanopartículas compostas por gorduras, chamadas lípidos, que são bem toleradas e podem ser utilizadas para administrar medicamentos e vacinas por serem compatíveis com tecidos vivos.
Os adenocarcinomas ductais são frequentemente compostos por células com várias mutações. Para produzir imunidade antitumoral, os investigadores conceberam antigénios para os genes mais comummente mutados, que impulsionam o crescimento excessivo de células no cancro. Estes antigénios estimulam e treinam o sistema imunitário dos doentes para destruir as células tumorais, explicam os investigadores.
Em vez de personalizar a medicina para cada indivíduo, estas vacinas seriam eficazes para muitos doentes com este tipo de cancro do pâncreas, de acordo com os investigadores.
Segundo Lu, as vacinas poderiam ser utilizadas para prevenir o adenocarcinoma ductal em doentes que possam ser suscetíveis de desenvolver a doença por serem portadores de determinadas mutações.
“Mostrámos que a nossa vacina gerou memória imunitária em modelos pré-clínicos”, diz Lu. “Se pudéssemos fazer isto nos doentes, poderíamos prevenir o adenocarcinoma ductal antes que os tumores se começassem a formar, pelo que as vacinas poderiam ser terapêuticas ou preventivas.”
Os investigadores receberam uma bolsa de 3,27 milhões de dólares, com a duração de cinco anos, do Instituto Nacional do Cancro, para explorar ainda mais o uso terapêutico de vacinas em modelos pré-clínicos de adenocarcinoma ductal. Lu espera colaborar com a indústria em demonstrações de segurança noutros modelos antes de passar para ensaios clínicos em doentes humanos.