É possível engravidar, de forma natural, depois da quimioterapia, confirma um estudo apresentado no Congresso da Sociedade Europeia de Oncologia Clínica (ESMO 2018), que decorre em Munique, na Alemanha. Mas o desejo de ter filhos diminui muito entre as sobreviventes, revela o mesmo trabalho, que questiona a necessidade de recurso a medidas de preservação da fertilidade.
Realizado em França, o estudo identificou 96 doentes com idade entre 18 e 40 anos, tratadas com quimioterapia para o cancro da mama não-metastático. Destas, 60 aceitaram participar no inquérito.
Com uma mediana de idade na altura do diagnóstico a rondar os 36 anos, em mais da metade dos casos, o cancro tinha-se espalhado para os gânglios linfáticos no momento do diagnóstico, o que significava um maior risco de recorrência.
No entanto, no momento em que foi feita a investigação, todas as mulheres se encontravam em remissão completa.
Gravidez natural possível após tratamentos
De acordo com os resultados, 83% das participantes tiveram uma completa ausência de menstruação durante o uso da quimioterapia. Uma descoberta “esperada”, segundo Martin-Babau, líder do estudo.
“O que não esperávamos era que 86% destas doentes também relatassem que o ciclo menstrual tinha voltado ao normal no ano seguinte após o fim da quimioterapia, indicação de que o tratamento não tinha danificado completamente os ovários”, acrescenta o especialista.
O desejo de ter filhos foi também avaliado durante o curso da doença. No início do tratamento, mais de um terço das mulheres tinha planos para engravidar, posição que mudou quando o mesmo chegou ao fim. Nessa altura, apenas uma em cada dez mantinha a vontade.
“Das seis mulheres que ainda queriam ter filhos, quatro conseguiram realmente engravidar, embora duas tivessem acabado por abortar”, relata Martin-Babau.
A ideia de que é difícil conseguir engravidar naturalmente após o cancro da mama foi, por isso, desmentida, pelo menos neste grupo de doentes.
A necessidade de um aconselhamento sobre fertilidade
O especialista alerta para as limitações do estudo, que “reflete a atividade de apenas alguns médicos – a realidade pode ser bem diferente noutros lugares”.
A isto junta-se o facto de um terço das doentes identificadas não ter respondido ao inquérito, “muito possivelmente devido à frustração com a sua situação pessoal. A sua participação podia ter mudado os nossos resultados”.
Apesar disto, considera que, nos casos em que as gravidezes naturais ainda são possíveis após o tratamento, os médicos precisam de “pensar em como fornecer a informação mais equilibrada possível, proporcionando um aconselhamento sobre fertilidade a estas doentes jovens”.