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Faltam recursos humanos e financeiros para ensaios clínicos em oncologia pediátrica

ensaios clínicos em oncologia pediátrica

São poucos, ou melhor, “são muito poucos”. Cristina Potier, diretora-geral da Fundação Rui Osório de Castro (FROC), não tem dúvidas que são precisos mais ensaios clínicos em oncologia pediátrica. A propósito do Dia Internacional dos Ensaios Clínicos, que se assinala a 20 de maio, confirma que “entre as questões que impedem a inclusão de crianças com doença oncológica em ensaios clínicos estão a escassez de recursos humanos para coordenar, monitorizar e reportar aos grupos internacionais que coordenam estes estudos e, também, a falta de recursos financeiros”.

De acordo com a representante da FROC, “os centros de referência de oncologia pediátrica encontram-se muito orientados para um modelo exclusivamente assistencial, o que faz com que a participação de Portugal nestes grupos de trabalho internacionais exista apenas sustentado na boa vontade dos médicos”.

Apela, por isso, à existência de uma estrutura capaz de coordenar a participação nestes ensaios clínicos, considerada “uma mais-valia para se conseguir integrar mais crianças portuguesas ao abrigo de protocolos de ensaios clínicos”.

Crianças tratadas com medicamentos testados em adultos

A diretora-geral da FROC salienta também a necessidade de consciencializar a população no geral que “as crianças com doença oncológica são tratadas com medicamentos que, na grande maioria, não foram testados para elas, mas sim para adultos”.

As características e as reações de um cancro numa criança podem ser muito diferentes do cancro num adulto. “É por isso fundamental que exista investigação clínica e ensaios clínicos específicos para a oncologia pediátrica.”

Cristina Potier, considera ainda que Portugal deve “contribuir para a evolução do conhecimento da doença e da melhoria contínua nos cuidados prestados, com a vantagem de assim as nossas crianças terem mais cedo acesso a terapias inovadoras”.

E explica que “os ensaios clínicos realizados nas crianças de que falamos são de fase III ou IV. O que é que isto quer dizer… que o risco não é grande, os medicamentos utilizados já têm autorização de introdução no mercado. Apenas se quer comprovar se um medicamento ou protocolo é melhor do que já é seguido no tratamento de um certo tipo de doença oncológica nas criança”.

Vantagens dos ensaios feitos com crianças

No que diz respeito ao investimento da indústria farmacêutica, a aposta tem sido no adulto. “A investigação pediátrica é normalmente realizada por iniciativa dos investigadores, através de estudos chamados académicos. Nos ensaios clínicos pediátricos podem estar a testar-se protocolos de tratamento e caso não seja ‘melhor’ do que o normalmente seguido, volta-se ao protocolo normalmente utilizado para aquela patologia e estadiamento da doença”.

Aqui, “a vantagem é que a observação não é feita apenas numa criança. Existe um grupo de crianças que participa, pelo que existe uma grande monitorização e controlo ao tratamento seguido. Qualquer sinal menos positivo é logo transmitido a todos os participantes. Tendo em conta o número reduzido de casos de cada tipo de cancro pediátrico, estes ensaios são normalmente organizados por grupos de trabalho internacionais, normalmente europeus, para que a amostra seja significativa”.

Tendo em conta a mais recente posição da Sociedade Europeia de Oncologia Pediátrica, que pretende alterar a idade mínima de acesso a ensaios clínicos para 12 anos, a diretora-geral da FROC considera que a proposta “tem prós e contras”.

Uma das vantagens é que “permite o acesso precoce a tratamentos inovadores e muito se tem evoluído no tratamento e na sobrevivência de alguns tipos de cancro nos adultos isto graças a terapias inovadoras. Terapias essas a que as crianças com a atual regra dos 18 anos ainda não têm acesso”.

O contra é “o risco inerente à participação num ensaio clínico, neste caso com medicamentos que podem ainda não ter autorização para serem introduzidos no mercado, isto é nunca ‘testados’. Pessoalmente, acredito, que cada caso é um caso e que a escolha deverá ser dada à família e ao médico e apenas seguida não havendo outra hipótese terapêutica satisfatória. E acho que esse vai ser o caminho”.

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