É muito ainda o que falta saber sobre o novo coronavírus, que confunde e troca as voltas a muitos especialistas. Uma das questões tem a ver com a diferente forma como afeta as pessoas. Embora uma minoria de doentes com COVID-19 exija hospitalização, os efeitos da infeção para essas pessoas são dramáticos e, em alguns casos, com risco de vida. Então, porque é que algumas pessoas adoecem gravemente, enquanto outras não apresentam sintomas ou apenas sintomas ligeiros?
A idade é um fator de risco, ou seja, as pessoas de meia-idade e mais idosas têm muito mais probabilidade de sofrer sintomas, de serem hospitalizadas e de morrer.
Uma análise recente aos dados da China estimou que a probabilidade de morte em casos confirmados de COVID-19 era mais de 13% para os doentes com 80 anos ou mais, em comparação com cerca de 0,15% para os que se encontravam faixa dos 30 anos e praticamente 0% para menores de 20 anos.
Resultados semelhantes foram encontrados num estudo aos primeiros casos nos EUA.
Em parte, isso pode ser explicado pelo facto de os sistemas imunitários das pessoas mais velhas tenderem a ser menos eficientes na eliminação de infeções virais.
No entanto, provavelmente há mais a dizer sobre o assunto. “As pessoas na faixa dos 40, 50 e 60 anos não são geralmente atingidas por outras infeções virais, como a gripe, da forma como são atingidas pela COVID-19”, explica Fred Pelzman, professor associado de Medicina Clínica da Weill Cornell, nos EUA.
O COVID-19 grave é causada não apenas por danos virais às células, mas por uma “tempestade” reativa de inflamação que prejudica os pulmões e outros órgãos.
Pode haver mudanças em diferentes partes do sistema imunitário associadas ao envelhecimento, que tornam a meia-idade mais vulnerável a esta tempestade do que os mais jovens, mesmo que sejam saudáveis e não apresentem condições médicas subjacentes, refere o especialista.
Também as crianças podem contrair infeções por COVID-19, mas são poupadas de doenças graves. Mais uma vez, o motivo não é claro, mas os estudos existentes feitos com outros vírus, entre os quais coronavírus, sugerem que as crianças mais jovens podem ter muito menos probabilidade de desenvolver uma tempestade inflamatória quando infetadas.
Homens vs mulheres
Homens e mulheres apresentam taxas de infeção pelo novo coronavírus semelhantes, mas na maioria dos países os homens têm maior risco de morte por esta causa. Em Itália e na Irlanda, por exemplo, os homens são responsáveis por cerca de 70% das mortes por COVID-19.
Não faltam hipóteses para justificar esta diferença. Uma é que existem diferenças entre os sexos na resposta imunitária. Estudos sobre o vírus influenza, por exemplo, verificaram que homens mais velhos tendem a ter piores resultados do que mulheres mais velhas.
Os homens são também também mais propensos a ingerir álcool, o que enfraquece o sistema imunitário e aumenta a suscetibilidade à pneumonia e fumam mais, o que enfraquece a imunidade e a função pulmonar geral.
Mesmo assim, refere Pelzman, faltam estudos para determinar os fatores subjacentes à vulnerabilidade extra apresentada pelos homens.
Outras doenças associadas à COVID-19
Pessoas que desenvolvem COVID-19 grave ou fatal têm uma probabilidade desproporcional de ter pelo menos um problema de saúde associado importante, como diabetes, hipertensão, obesidade, doença cardiovascular, asma, doença renal ou doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC).
Em alguns casos, as possíveis explicações para estas ligações são óbvias. Diabetes e obesidade estão associadas a uma menor resistência a infeções.
A asma e a DPOC envolvem função pulmonar reduzida e maior suscetibilidade à inflamação pulmonar, ao que se junta o facto de os doentes com estes problemas costumarem tomar medicação que reduz a imunidade a infeções respiratórias.
Em geral, qualquer problema médico subjacente grave pode tornar um órgão vital menos capaz de suportar o stress biológico causado por uma infeção e a inflamação.
Ter um sistema imunitário enfraquecido, por exemplo, devido a tratamentos contra o cancro, transplantes de órgãos ou outras condições que exigem que a toma de medicamentos imunossupressores é outro fator que pode aumentar bastante a suscetibilidade à infeção grave por COVID-19 e tornar as pessoas mais contagiosas durante a infeção, pelo que os cuidados aqui devem ser redobrados.
Dose da exposição ao vírus também importa
Os médicos sabem há muito tempo que a quantidade, ou “dose”, de exposição a um agente infeccioso pode ser um determinante importante da gravidade da doença. Os investigadores estão a ver isso agora como um fator que possivelmente explica o porquê de algumas pessoas saudáveis serem tão atingidas pela COVID-19.
“Estar exposto a uma dose baixa vinda de alguém, no metro, que tinha sintomas ligeiros pode envolver um risco menor de doença grave”, refere Pelzman, “comparado com a dose transmitida por alguém muito doente e altamente contagioso”.