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Doenças sexualmente transmissíveis entre idosos são desafio global de saúde pública

doenças sexualmente transmissíveis nos idosos

A incidência do VIH e de outras doenças sexualmente transmissíveis (DST) entre as pessoas com idades compreendidas entre os 60 e os 89 anos está a aumentar em algumas regiões do mundo. É necessária uma maior sensibilização para esta questão, a redução do estigma e a adoção de medidas preventivas, alerta um novo estudo da Lancet Healthy Longevity.

Em todo o mundo, as pessoas vivem mais tempo e, de acordo com as estimativas da Organização Mundial de Saúde, o número de pessoas com mais de 60 anos quase duplicará até 2050.

E sabe-se também que à medida que envelhecemos, a nossa saúde vai diminuindo. O sistema imunitário fica mais fraco e tornamo-nos mais suscetíveis a infeções, o que inclui o VIH e outras infeções sexualmente transmissíveis, como a sífilis, a clamídia, gonorreia, tricomoníase e o herpes genital.

“O VIH e outras doenças sexualmente transmissíveis são tão prevalentes na população idosa sexualmente ativa como na população jovem”, afirma Evandro Fei Fang, professor do Instituto de Medicina Clínica da Universidade de Oslo. “Precisamos de prestar atenção às IST na população idosa”, acrescenta.

Fang e os colegas analisaram as tendências globais na incidência, prevalência, mortalidade e anos de vida ajustados por incapacidade do VIH e outras doenças sexualmente transmissíveis entre adultos mais velhos, com idades compreendidas entre os 60 e os 89 anos, entre 1990 e 2019.

O estudo incluiu dados de 204 países e revela que, ainda que a nível mundial o número de adultos mais velhos com VIH e DST tenha diminuído nas últimas décadas, o número de novos casos indica que as DST em adultos mais velhos continuam a ser um desafio de saúde pública. A nível mundial, em 2019, registaram-se mais de 77.000 novos casos de VIH e quase 26,5 milhões de novos casos de outras IST em adultos mais velhos.

Além disso, em algumas regiões, o número de pessoas que são infetadas está a aumentar. “Apesar da diminuição global da taxa de incidência padronizada por idade do VIH e de outras doenças sexualmente transmissíveis em adultos mais velhos, entre 1990 e 2019, muitas regiões apresentaram aumentos. Os maiores aumentos registaram-se na Europa Oriental, na Ásia Central e na Ásia-Pacífico de elevado rendimento”, explica Fang, que considera esta “uma tendência preocupante”.

Idosos mais suscetíveis a doenças sexualmente transmissíveis

Os idosos sexualmente ativos são frequentemente mais suscetíveis ao VIH e a outras DST do que os jovens e a razão pode ser encontrada nas condições de saúde, sobretudo no enfraquecimento dos seus sistemas imunitários. No entanto, o quadro é mais complexo. Vários fatores biológicos, psicológicos, culturais e sociais contribuem para essa maior suscetibilidade.

Uma vez que vivemos mais tempo e que cada vez mais pessoas se divorciam, os adultos mais velhos arranjam mais frequentemente do que antes novos parceiros. Mesmo assim, são menos as pessoas deste grupo etário que utilizam métodos de proteção, como o preservativo, e têm menos probabilidades de fazer o teste das doenças sexualmente transmissíveis.

“De um modo geral, é dada muita atenção à prevenção do VIH e de outras doenças sexualmente transmissíveis nas populações mais jovens, mas os indivíduos mais velhos são frequentemente excluídos dos programas de prevenção”, explica Fang. Além disso, os profissionais de saúde nem sempre estão sensibilizados para a sexualidade e a atividade sexual dos adultos mais velhos, o que pode levar a uma comunicação inadequada com os idosos sobre a saúde sexual e o risco de VIH e outras DST.

Por outro lado, é provável que os progressos no tratamento do VIH e das DST também contribuam para uma maior incidência em algumas partes do mundo, uma vez que as pessoas que sofrem destas doenças vivem mais tempo do que antes.

Viajar para países estrangeiros tornou-se também mais acessível a uma parte considerável da população mundial nas últimas décadas. E, de acordo com os investigadores, a utilização generalizada de medicamentos para a disfunção erétil e as indústrias do sexo acessíveis em alguns países e regiões contribuem ainda mais para a propagação do VIH e de outras DST entre os adultos mais velhos.

 

Crédito imagem: Jacob Wackerhausen (iStock)

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