
A fibromialgia é uma desordem dolorosa crónica, que esconde ainda muitos segredos (as suas causas são, em grande parte, desconhecidas) e que é difícil de tratar. Agora, um estudo realizado por especialistas da Clínica de Medicina Psicossomática e Psicoterapia da Universidade Ruhr de Bochum, na Alemanha, fornece provas de que certas áreas do cérebro envolvidas no processamento da dor não funcionam normalmente nas pessoas com fibromialgia.
Nas pessoas saudáveis, a dor que podemos controlar é mais fácil de suportar, mostra este estudo, que descobriu que estas áreas cerebrais mostraram uma atividade alterada nos doentes com fibromialgia.
O grau em que sentimos a dor e a restrição causada por esta depende em grande parte da forma como a percecionamos. Se tivermos a sensação de que podemos controlar a dor e desligá-la nós próprios, por exemplo, tolerá-la-emos melhor do que se nos sentirmos à sua mercê. “Para as pessoas com dores crónicas, a incapacidade de controlar ataques repetidos de dor é uma das causas mais significativas de deterioração da qualidade de vida”, explica Benjamin Mosch, autor principal do estudo. “E no entanto, os mecanismos neurais subjacentes têm sido até agora estudados sobretudo em pessoas saudáveis.”
Não foi este o caso. Nesta investigação, a equipa comparou dois grupos de mulheres: 21 participantes saudáveis e 23 com fibromialgia. Ambos foram expostos a dores associadas ao calor, enquanto as suas atividades cerebrais eram monitorizadas por ressonância magnética funcional.
Quando as mulheres do grupo de controlo saudável eram capazes de terminar elas próprias o estímulo da dor, foram ativadas várias áreas do cérebro, sobretudo na zona frontal, que parecem desempenhar um papel importante na modulação da dor. “Curiosamente, contudo, não detetámos quaisquer ativações deste tipo no nosso grupo de doentes”, assinala Martin Diers, líder do trabalho. “Isto pode servir como prova para confirmar o processamento da dor deficiente entre as pessoas com fibromialgia. Indica que os recursos cognitivos para lidar com a dor aguda são prejudicados nestes pacientes.”
O longo caminho para o diagnóstico de fibromialgia
A fibromialgia foi adicionada ao catálogo da Organização Mundial de Saúde em 1994. É uma doença que se caracteriza por dores recorrentes, bem como vários outros sintomas, incluindo perturbações do sono, estados de humor depressivos, fadiga crónica e problemas digestivos. Em média, são necessários 16 anos até que seja feito um diagnóstico.