As pessoas com 80 ou mais anos que sofrem de insuficiência cardíaca têm menos probabilidade de receber os tratamentos e dosagens recomendadas em comparação com os mais jovens, revela um estudo apresentado no Heart Failure 2021, o congresso científico online da Sociedade Europeia de Cardiologia.
“As diretrizes recomendam os mesmos tratamentos para todas as pessoas com insuficiência cardíaca, independentemente da idade”, refere o autor do estudo, Davide Stolfo, especialista do Instituto Karolinska, em Estocolmo, Suécia, que investigou a prescrição de terapia baseada em evidências em doentes com insuficiência cardíaca de acordo com três categorias de idade: abaixo de 70, dos 70 aos 79 e com 80 ou mais anos.
O estudo incluiu 27.430 pessoas com insuficiência cardíaca, com uma idade média de 74 anos, 27% dos quais mulheres e verificou que a prescrição de tratamentos diminuiu progressivamente com o aumento da idade.
Não só isto, mas os doentes com 80 anos ou mais tinham também menos probabilidade de serem tratados com a dose recomendada de medicamentos ou de receber os três tipos de medicamentos recomendados. Metade das pessoas com menos de 70 cumpriram ambas as recomendações, em comparação com apenas 42% do grupo dos 70 aos 79 anos e 26% daqueles com 80 anos ou mais.
“O estudo mostra que, mesmo após o ajuste estatístico para muitas outras variáveis incluídas nos registos, quase todos os tratamentos são subutilizados nos doentes mais velhos”, refere o especialista. “Este foi um estudo observacional e, por isso, não é possível determinar as razões, mas uma possibilidade é que os médicos acreditem que os tratamentos são menos eficazes em pessoas idosas com insuficiência cardíaca.”
Ainda de acordo com o médico, os doentes mais velhos, sobretudo aqueles com doenças coexistentes, são frequentemente excluídos dos ensaios clínicos. “Mas são necessários estudos em grupos de idade avançada com insuficiência cardíaca para fornecer aos médicos maior certeza sobre a eficácia do tratamento em dose completa. Devemos seguir o exemplo de um estudo que investigou essa questão de acordo com o género, que sugeriu que mulheres com insuficiência cardíaca podem precisar de doses mais baixas de alguns medicamentos do que os homens.”
“Em pacientes mais jovens com esta doença, o objetivo principal do tratamento é melhorar a sobrevida, enquanto nos pacientes mais velhos pretendemos reduzir os sintomas, melhorar a qualidade de vida e prevenir hospitalizações”, conclui.
“São necessárias estratégias para garantir que todas as pessoas com insuficiência cardíaca são tratadas de forma otimizada.”