Estima-se que, em Portugal, cerca de um milhão de pessoas vivam com diabetes. E nem metade destes portugueses fez um rastreio num oftalmologista, apesar dos olhos serem um dos órgãos que podem ser gravemente afetados pela doença, que se manifesta sob a forma de retinopatia diabética.
No Dia Mundial da Retina, que se assinala a 29 de setembro, a Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO) recorda os dados do Programa Nacional para a Saúde da Visão e alerta para a necessidade dos rastreios, e envio em tempo útil para centros de diagnóstico e tratamento, capazes de impedir uma das consequências mais graves da doença, a cegueira.
“As pessoas com retinopatia diabética veem limitada a realização do seu potencial de vida, para além de se tornarem membros menos ativos na sociedade civil”, refere Carlos Marques Neves, oftalmologista e Coordenador do Grupo Português de Retina e Vítreo da SPO.
Esta situação pode ser evitada com um rastreio regular e tratamento oftalmológico eficaz, seguindo o exemplo de Inglaterra, em que a retinopatia diabética deixou de ser a principal causa de perda de visão dos 20 aos 64 anos.
Pelo menos 250 mil diabéticos com retinopatia
Apesar de não existirem dados definitivos sobre a prevalência da retinopatia diabética em Portugal, e sobre a perda de visão que lhe está associada, dados de um estudo recente avançam para a existência de pelo menos 250 mil diabéticos tipo 2 com retinopatia diabética, em vários estádios da doença.
No DR Barometer Study, 25% dos diabéticos inquiridos revelaram dificuldade em tratar a sua própria diabetes. Destes, 83% com retinopatia diabética ou edema macular diabético referem ter dificuldades em conduzir ou fazer atividades domésticas e 27% não discutem as complicações oculares com o seu médico.
Falta uma política de rastreios nacionais
Tratar a retinopatia diabética é possível, estando o sucesso do tratamento da mesma, que inclui a manutenção da visão, associado ao diagnóstico precoce. É aqui que entram os rastreios.
“Um doente com diabetes deve fazer regularmente um exame médico ocular para detetar as alterações iniciais da retinopatia diabética”, reforça Carlos Marques Neves.
“Mas sem um esquema nacional implantado a maioria dos diabéticos não realiza rastreios e ou seguimento adequado da sua retinopatia.”
Recentemente, a Direção-Geral da Saúde emitiu um conjunto de normas, 016/2018, dirigidas aos médicos do Serviço Nacional de Saúde, para a realização do rastreio da retinopatia diabética. Estas recomendações definem ainda o esquema de seguimento e orientação até ao tratamento, que implica a criação de centros de diagnóstico e tratamento integrado.
Quanto ao rastreio, define que deve ser feito com periodicidade, dependente dos anos de diabetes e do tipo de retinopatia existente. Por isso, a mensagem é apenas uma: “alerte o seu familiar diabético para o rastreio oftalmológico”.