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Olhos secos afetam mais de metade da população, mas só um quinto recebe diagnóstico e tratamento

olhos secos

Os olhos secos podem causar desconforto significativo, e os sintomas tornam-se mais comuns com a idade, afetando ainda mais pessoas do que o estimado: um estudo apresentado no 43º Congresso da Sociedade Europeia de Cirurgiões de Catarata e Refrativa (ESCRS) descobriu que mais de metade da população em geral nos EUA e na Europa já sofreu de olho seco, mas apenas 20% dos europeus e 17% dos americanos foram diagnosticados, podendo levar anos à espera por ajuda profissional.

Piotr Wozniak, cirurgião refrativo e especialista em olhos secos na Optegra Eye Clinics em Varsóvia, Polónia, e professor na Universidade Cardeal Stefan Wyszyński, em Varsóvia, explica que este estudo explorou porque é que as pessoas não procuram tratamento. “Muitos veem os olhos secos como uma parte normal do envelhecimento e algo a suportar. Enquanto médico, considero isto particularmente preocupante, pois um simples colírio pode oferecer um alívio significativo, mas muitas pessoas nem sequer pedem ajuda.”

Wozniak apresentou os resultados de um inquérito a milhares de adultos nos EUA e na Europa e Arábia Saudita e descobriu que 58% da população em geral relatou apresentar sintomas de olhos secos, mas apenas um em cada cinco recebeu um diagnóstico formal de um profissional de saúde.

“O estudo explorou a jornada do doente em detalhe. O que chamou a atenção foi que até um terço dos doentes apresentava sintomas há mais de cinco anos antes de procurar ajuda profissional. E também descobriu que cerca de metade dos doentes apresenta sintomas todos os dias. O atraso na procura de tratamento é preocupante, especialmente porque o olho seco é uma doença progressiva e a intervenção precoce pode prevenir um ciclo vicioso de inflamação”, refere o especialista.

Outros resultados deste trabalho mostraram que 60% dos doentes com olhos secos esperaram pelo menos quatro meses antes de procurar ajuda e 20% esperaram mais de um ano antes de falar com um profissional de saúde sobre os seus sintomas.

Muitos deixaram de conduzir à noite (17%), deixaram de usar maquilhagem (14,8%) ou reduziram o uso de aquecimento ou ar condicionado (15,2%) devido aos sintomas de olho seco não controlados. Um em cada três (34%) referiu que os seus sintomas se agravaram no último ano e apenas 9% afirmou que houve melhoria.

Amais comum forma de tratamento

Os colírios lubrificantes foram o primeiro e mais comum tratamento, escolhido pelo doente ou por um profissional de saúde ou de oftalmologia. No entanto, apenas 25% acreditavam que o seu tratamento atual estava especificamente adaptado às suas necessidades.

“O estudo também examinou as interações entre doente e profissional de saúde, revelando diferenças nacionais. Por exemplo, em França, menos de metade dos doentes com olhos secos tinham consultas de acompanhamento planeadas, enquanto na Arábia Saudita, a maioria, 84%, foi acompanhada proativamente pelos seus médicos”, refere um dos autores deste estudo.

Entre 35 a 75% das pessoas sentiam-se muito ou extremamente incomodadas com a secura ocular, sendo a leitura, o uso de dispositivos eletrónicos ou a condução as atividades mais comummente interrompidas; 70% não tinham conhecimento das opções de tratamento; 40% desconheciam que a secura ocular não tratada pode causar outros problemas oculares e perda de visão; apenas cerca de 25% visitavam um oftalmologista a cada dois anos ou mais; 67% das pessoas com olhos secos esperaram seis meses ou mais para consultar um oftalmologista, e 31% esperaram dois anos ou mais.

“Estas descobertas destacam o amplo impacto da doença do olhos seco na qualidade de vida, mostrando um grande número de pessoas a sofrer silenciosamente. Precisamos de educar os doentes e o público sobre as causas, consequências e opções de tratamento para olhos secos, bem como a importância de exames oftalmológicos regulares. Além disso, devemos apoiar os profissionais de saúde na distinção entre os diferentes tipos de olho seco e na combinação adequada de tratamentos. O ‘olho seco’ de uma pessoa pode ser muito diferente do de outra”, refere Wozniak.

Sintomas e o agravamento dos mesmos

O diagnóstico de olhos secos envolve, geralmente, uma combinação de sintomas relatados pelo paciente, história clínica e exames clínicos. No entanto, alguns doentes são diagnosticados apenas com base nos sintomas e num exame oftalmológico padrão, por exemplo, com um microscópio.

As ferramentas de diagnóstico específicas incluem a observação do tempo que demora para que uma mancha seca apareça na córnea após um piscar de olhos, a utilização de corante para colorir a superfície do olho, a medição das concentrações de sais e outras partículas nas lágrimas ou uma avaliação da glândula de Meibomius, responsável pela produção da parte oleosa das lágrimas.

Se não for tratado, o olho seco pode ser muito desconfortável, causar inflamação e uma condição chamada blefarite, quando as pálpebras ficam doridas e inflamadas. Os sintomas incluem sensação de areia ou areia nos olhos, dor, desconforto, comichão ou sensação de queimadura, visão turva a curto prazo e olhos lacrimejantes.

Os olhos secos são mais comuns em pessoas com mais de 50 anos porque as glândulas que produzem lágrimas, particularmente a parte oleosa, tornam-se menos eficazes, fazendo com que as lágrimas sequem muito rapidamente e a parte frontal do olho fique seca e irritada. A condição pode também afetar o resultado de quase todas as cirurgias oftalmológicas, incluindo procedimentos de catarata e refrativos, tornando o seu diagnóstico e tratamento importantes, mesmo antes da cirurgia.

Condições secas, poeirentas, ventosas e frias também podem causar secura nos olhos, assim como o ar condicionado, o aquecimento central, o tabagismo e certas condições médicas, como doenças autoimunes e condições hormonais.

A presidente da ESCRS, Filomena Ribeiro, chefe do Departamento de Oftalmologia do Hospital da Luz, em Lisboa, Portugal, comentou sobre estes estudo e considera que “estas descobertas revelam a verdadeira extensão da doença de olhos secos na população em geral. É preocupante que uma proporção tão pequena de doentes procure ajuda para a condição, especialmente porque isto pode fazer uma diferença real nos resultados da cirurgia oftalmológica e também na sua qualidade de vida. Os profissionais de saúde oftalmológica precisam de discutir isto com os pacientes quando os consultam e incentivar as pessoas a fazerem exames oftalmológicos regulares”.

 

Crédito imagem: Unsplash

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