Há muito que é sugerida uma relação estreita entre a periodontite e a diabetes, mas agora uma equipa de investigadores demonstrou que a periodontite grave aumenta quatro vezes a probabilidade de desenvolver diabetes.
Uma investigação conjunta de várias equipas, entre as quais uma liderada por Montanya, do Bellvitge Biomedical Research Institute (IDIBELL), corroborou a associação numa amostra representativa da população espanhola.
A periodontite é uma doença inflamatória crónica relacionada com a alteração da microbiota oral, que pode levar à destruição dos tecidos que envolvem os dentes. Em casos graves, é comum a perda de alguns dentes como consequência. Além disso, há muito que se sabe que a diabetes é um fator de risco significativo para a periodontite, sobretudo em indivíduos com um mau controlo da glicemia.
Nos últimos anos, foi estudada uma relação inversa, ou seja, parece que a periodontite também tem um impacto na diabetes, mais ainda quando se trata da forma grave da doença, que foi demonstrado que altera significativamente o controlo glicémico e metabólico, aumentando assim a probabilidade de os diabéticos desenvolverem várias complicações.
A periodontite foi mesmo identificada como um potencial fator de risco para o desenvolvimento da diabetes em pessoas não diabéticos. No entanto, os estudos são escassos na população europeia e é necessário confirmar se a associação entre as duas doenças é verdadeira na Europa.
Foi por isso mesmo que uma equipa liderada por investigadores do grupo de Etiologia e Terapêutica das Doenças Periodontais e Peri-implantares (ETEP) da Universidad Complutense de Madrid (UCM) e de outras instituições realizou um estudo pioneiro em Espanha para determinar de que forma a periodontite afeta a diabetes na população espanhola.
“A magnitude da associação relatada é superior às publicadas noutras investigações, realizadas principalmente em populações asiáticas”, afirma Eduard Montero, investigador e professor associado da UCM.
O estudo, publicado no Journal of Clinical Periodontology, baseou-se na recolha e análise de dados clínicos de 231 doentes e nas respostas de saúde oral de mais de 1.700 pessoas. Destes, 144 (8,2%) tinham o diagnóstico de diabetes.
Tendo em conta os resultados obtidos, “seria ideal avaliar se a periodontite é um verdadeiro fator de risco para o desenvolvimento da diabetes e, em última análise, se o tratamento periodontal pode prevenir ou atrasar o aparecimento da diabetes em indivíduos suscetíveis”, como sugere Eduard Montanya, coordenador do programa IDIBELL Diabetes e Metabolismo.
Se a periodontite for confirmada como um fator de risco para a diabetes, o próximo passo é a aplicação terapêutica. “Se quisermos ver a utilidade do ponto de vista da oportunidade, o tratamento periodontal em pacientes com periodontite, sendo um tratamento muito simples e minimamente invasivo, provou não só ser eficaz no controlo da periodontite, mas também levar a reduções nos valores de hemoglobina glicosilada, o principal marcador do controlo glicémico em pessoas com diabetes”, conclui Montero.