Há um tratamento para o cancro que, segundo investigações recentes, pode vir a ser eficaz contra a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC). Especialistas da Universidade de Sheffield, no Reino Unido, estão a avaliar o efeito dos medicamentos usados para tratar uma variedade de cancros em pessoas que vivem com DPOC que, por cá, são já cerca de 800 mil.
A DPOC é uma doença respiratória que se progride ao longo de vários anos, muitas vezes de forma silenciosa, que vai tornando a respiração progressivamente mais difícil.
Quem vive com esta doença apresenta sintomas com um impacto crescente na sua qualidade de vida, incluindo falta de ar, tosse e dificuldade para realizar até as tarefas mais simples.
Os pulmões são os principais castigados, sendo os responsáveis células imunitárias chamadas neutrófilos. É sobre um grupo de medicamentos que aceleram a morte destas células, até agora usados para o tratamento do cancro, que os especialistas se debruçaram, tendo descoberto que inibem um processo de sinalização celular que controla a taxa de mortalidade dos neutrófilos nocivos.
Lynne Prince, da Universidade de Sheffield, explica que “a DPOC é geralmente tratada com esteroides e relaxantes musculares das vias aéreas, que aliviam os sintomas, não havendo atualmente tratamento clinicamente disponível para combater os danos causados aos pulmões”.
Mas estes medicamentos têm o potencial de “limpar as células prejudiciais aos pulmões das pessoas que vivem com DPOC, evitando mais danos e, portanto, a progressão da doença”, algo que aconteceria pela primeira vez.
Urgência de novos tratamentos para a DPOC
O reaproveitamento de um medicamento já disponível clinicamente tem muitos benefícios. Stephen Renshaw, professor em Sheffield, alerta para a urgência de ter um novo tratamento para a DPOC: “milhões de pessoas em todo o mundo vivem com a doença e isso tem um enorme impacto na sua qualidade de vida, principalmente à medida que a doença progride”.
Para o especialista, “o que é empolgante nesta investigação é que estes compostos estão agora disponíveis, o que significa que, se a investigação comprovar que são, de facto, eficazes, estão prontos a ser usados”.
Como a inflamação neutrofílica também é central para a progressão de outras doenças inflamatórias crónicas, como a artrite reumatoide, a investigação tem o potencial de impactar não apenas as pessoas que vivem com DPOC. “O nosso próximo passo é encontrar uma forma de testar estes medicamentos em pessoas com DPOC”, para compreender a sua ação e “solucionar possíveis efeitos secundários”.