No primeiro semestre deste ano realizaram-se menos 3,8 milhões de consultas presenciais nos cuidados de saúde primários do que no mesmo período de 2019 e menos 902 mil consultas nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde. Dados apresentados esta terça-feira, no lançamento do Movimento Saúde em Dia, promovido pela Ordem dos Médicos e pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), que mostram uma quebra de 36% de consultas presenciais nos centros de saúde nos primeiros seis meses deste ano.
A redução de 902 mil consultas hospitalares representou uma quebra nas primeiras consultas hospitalares e de 11% nas consultas subsequentes. Nas urgências hospitalares, assistiu-se a uma redução de 27% de episódios no primeiro semestre, o que significa menos 839.436 episódios do que em 2019. Também as cirurgias tiveram uma quebra significativa, com a realização de menos 27% de intervenções. As cirurgias programadas, por sua vez, tiveram uma redução de 30% e as urgentes diminuíram 10%.
É com base nestes números, e nesta preocupação, que estas entidades, com o apoio da Roche, lançaram o vídeo “Saúde em Dia – Não mascare a sua saúde”, que pretende sensibilizar a população para a importância de se manterem alerta em relação à sua saúde, não mascarar sintomas e não adiar visitas ao médico perante sinais de alerta de qualquer doença.
A Ordem dos Médicos e a APAH manifestam preocupação com os dados relativos ao número acumulado de doentes que não têm acesso a consultas, cirurgias, exames, internamento ou mesmo urgências. Uma situação, explica Miguel Guimarães, Bastonário da Ordem dos Médicos, “que se pode agravar nos próximos meses, uma vez que existem doentes sem acesso a consultas desde março, que ainda não começaram a ser tratados e não há um verdadeiro plano de retoma”.
Segundo os dados oficiais, o número de teleconsultas aumentou 40%, no 1.º semestre de 2020. Contudo, Alexandre Lourenço, presidente da APAH, explica que há que olhar com atenção para as consultas presenciais que não foram realizadas: “os números da telemedicina até podem ser positivos, mas este recurso será sempre complementar , e ainda não está consolidado de forma uniforme em Portugal, e pode mascarar uma realidade que se pode tornar ainda mais grave num futuro próximo. Não é apenas com uma chamada telefónica que podemos realizar rastreios, diagnósticos,conhecer o doente e referenciá-lo adequadamente para os cuidados especializados”.
Miguel Guimarães subscreve esta ideia e acrescenta que “os centros de saúde continuam com atividade limitada pela Covid-19” e que os contactos diretos com o doente têm sido muito baseados numa suposta telemedicina e por contactos breves, o que não permite ter acesso à imagem completa do utente.
Combater o medo
“É preciso começar a tratar os doentes que ficaram pendentes desde março, é preciso que os doentes não tenham medo de ir ao SNS e que o SNS lhes dê todos os acessos possíveis. Os doentes não podem achar que uma consulta em telemedicina é o mesmo que uma consulta presencial”, refere Miguel Guimarães.