Se está grávida, talvez queira pensar duas vezes antes de ir comer um hambúrguer, um pacote de bolachas ou quaisquer alimentos ultraprocessados, revela uma investigação publicada na revista científica Environmental International.
Curiosamente, não é a comida que o relatório visa, nem as batatas fritas, os hambúrgueres ou mesmo os batidos e bolos, mas o que toca na comida antes de a comer.
A investigação mostra que os ftalatos, uma classe de químicos associados aos plásticos, podem passar dos invólucros, das embalagens e até das luvas de plástico usadas pelos manipuladores de alimentos para a comida. Uma vez ingeridos durante a gravidez, os químicos podem entrar na corrente sanguínea, através da placenta e depois na corrente sanguínea do feto.
A substância química pode causar stress oxidativo e uma cascata inflamatória no feto, observaram os investigadores. com base em estudos anteriores, que já indicavam que a exposição a ftalatos durante a gravidez pode aumentar o risco de baixo peso à nascença, de parto prematuro e de perturbações da saúde mental das crianças, como o autismo e Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção.
Mas este é o primeiro estudo em mulheres grávidas a mostrar que dietas mais ricas em alimentos ultraprocessados estão associadas a maiores exposições a ftalatos.
O risco dos alimentos ultraprocessados
“Quando as mães são expostas a este produto químico, ele pode atravessar a placenta e entrar na circulação fetal”, refere a autora sénior, Sheela Sathyanarayana, pediatra da UW Medicine e investigadora do Seattle Children’s Research Institute.
Esta análise envolveu 1.031 grávidas, a quem foram medidos os níveis de ftalatos presentes em amostras de urina recolhidas durante o segundo trimestre de gravidez. Daqui, os investigadores descobriram que cada aumento de 10% no consumo de alimentos ultraprocessados estava associado a uma concentração de um dos ftalatos mais comuns e prejudiciais 13% superior.
Os alimentos ultraprocessados, segundo os investigadores, são fabricados sobretudo a partir de substâncias extraídas de alimentos como óleos, açúcar e amido, mas foram de tal forma alterados pelo processamento e pela adição de químicos e conservantes para melhorar o seu aspeto ou prazo de validade que são difíceis de reconhecer na sua forma original, observaram os investigadores. Entre estas incluem-se as misturas para bolos embaladas, por exemplo, ou batatas fritas embaladas, pães de hambúrguer e refrigerantes.
Quando se trata de comida rápida, as luvas usadas pelos empregados e o equipamento ou utensílios de armazenamento, preparação e serviço podem ser as principais fontes de exposição. Tanto os ingredientes congelados como os frescos estariam sujeitos a estas fontes, refere a autora principal Brennan Baker.
“Não culpamos a pessoa grávida”, refere Baker. “Precisamos de chamar a atenção dos fabricantes e legisladores, para que ofereçam substitutos”, sendo ainda necessário, alertam, mais legislação para evitar a contaminação por ftalatos nos alimentos.
O que é que as mulheres grávidas devem fazer? Segundo Sathyanarayana, devem tentar evitar ao máximo os alimentos ultraprocessados e optar por frutas, legumes e carnes magras. A leitura dos rótulos pode ser também importante. “Procurem alimentos com um menor número de ingredientes e certifiquem-se de que conseguem compreender o que são.”