Realiza-se esta quinta-feira (dia 12) a primeira Cimeira Mundial sobre Vacinação, uma iniciativa da Comissão Europeia e da Organização Mundial da Saúde (OMS). Em Bruxelas, o foco está na multiplicação de ações pelo mundo para travar a propagação de doenças que podem ser prevenidas por vacinação e tomar posição contra o alastramento mundial da desinformação nesta matéria.
Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, considera “imperdoável que, num mundo tão desenvolvido como o nosso, ainda morram crianças por doenças que deveriam ter sido erradicadas há muito”.
“Pior ainda, temos a solução nas nossas mãos, mas não estamos a utilizá-la plenamente. A vacinação já previne dois a três milhões de mortes por ano e poderia prevenir mais 1,5 milhões se a cobertura da vacinação a nível mundial fosse melhor.”
Esta cimeira é, acrescenta, “uma oportunidade para colmatar esta lacuna. A Comissão continuará a trabalhar com os Estados-Membros da União Europeia (UE) para apoiar os esforços envidados a nível nacional e com os nossos parceiros aqui presentes. Trata-se de um desafio mundial que devemos enfrentar juntos e agora”.
Apelo para intensificar ações de vacinação
“Após anos e anos de progresso, encontramo-nos num ponto de viragem crítico”, afirma Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.
“O sarampo está a ressurgir e 10% das crianças continuam a não ter acesso a vacinas infantis”, acrescenta. “Podemos e devemos regressar ao bom caminho. Isto só será possível se fizermos com que todos possam beneficiar do poder das vacinas — e se os governos e os parceiros investirem na imunização como um direito para todos e um bem social. Chegou o momento de intensificar os esforços para apoiar a vacinação enquanto elemento essencial da saúde para todos.”
O apelo vai então no sentido de uma intensificação urgente dos esforços envidados para travar a propagação de doenças que podem ser prevenidas por vacinação, como o sarampo.
Nos últimos três anos, sete países, incluindo quatro na região europeia, perderam o seu estatuto de eliminação do sarampo. Os novos surtos são o resultado direto de lacunas na cobertura vacinal, nomeadamente entre adolescentes e adultos que nunca receberam todas as vacinas.
A fim de abordar eficazmente as lacunas de vacinação, a cimeira debruçou-se sobre os múltiplos obstáculos à vacinação, incluindo direitos, regulamentação e acessibilidade, disponibilidade, qualidade e conveniência dos serviços de vacinação; normas, valores e apoios sociais e culturais; motivação, atitudes, conhecimentos e competências individuais.
Desinformação ainda é um problema
Este ano, a OMS declarou a hesitação em vacinar, incluindo a complacência e a falta de confiança e de conveniência, uma das dez ameaças para a saúde mundial. As vacinas são seguras e eficazes e constituem a base de qualquer sistema de cuidados de saúde primários.
Em todo o mundo, 79% das pessoas concordam que as vacinas são seguras e 84% que são eficazes, de acordo com o Wellcome Global Monitor sobre o que pensam e como reagem as pessoas por todo o mundo face à ciência e aos grandes problemas no domínio da saúde.
No entanto, o relatório sobre o estado da confiança nas vacinas na UE indica que a recusa de vacinas tem vindo a aumentar em muitos Estados-Membros, associada a um baixo grau de confiança na segurança e eficácia das vacinas a nível mundial. Esta falta de confiança contribui significativamente para a redução das taxas de cobertura, essenciais para assegurar a imunidade de grupo, e está a levar ao aumento dos surtos de doenças.
De acordo com um inquérito Eurobarómetro de abril deste ano, quase metade dos cidadãos da UE (48%) considera que as vacinas podem muitas vezes produzir efeitos secundários graves, 38% pensam que podem causar as doenças contra as quais conferem proteção e 31% estão persuadidos de que podem debilitar o sistema imunitário.
Estes números são também a consequência de uma maior desinformação sobre os benefícios e os riscos das vacinas através dos meios de comunicação digitais e sociais.
O número de casos de sarampo notificados em 2019 já é o maior observado a nível mundial desde 2006. A vaga de casos de sarampo, que teve início em 2018, prosseguiu em 2019, com cerca de 90.000 casos notificados no primeiro semestre na região europeia da OMS e mais de 365.000 em todo o mundo. Estes dados semestrais excedem todos os valores anuais registados desde 2006.
Progredir rumo à cobertura universal e, em última análise, o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 3 — Garantir o acesso à saúde de qualidade e promover o bem-estar para todos em todas as idades — são prioridades na Europa e no mundo.