
Distúrbios do ritmo cardíaco, como fibrilhação auricular e paragem cardíaca súbita, são problemas que têm dado que falar, levando muitos a querer saber mais sobre como bate o coração. É o que aqui se pretende desvendar.
“É um momento emocionante no campo da eletrofisiologia cardíaca, com muitas opções de tratamento recentemente disponíveis aos doentes e muitas mais no horizonte”, refere Michael Shehata, eletrofisiologista cardíaco e diretor do Laboratório de Eletrofisiologia Intervencionista do Instituto do Coração Smidt, em Cedars-Sinai, nos EUA. “O campo é único na medida em que tratamos pessoas em todo o espetro etário, com diferentes condições, muitas das quais podemos curar e tratar completamente.”
Shehata diz que as perturbações mais comuns do ritmo cardíaco que trata são a fibrilhação auricular, que se caracteriza por um ritmo cardíaco irregular, muitas vezes rápido, que causa um mau fluxo sanguíneo e a taquicardia ventricular, um ritmo cardíaco anormal.
Mas o distúrbio do ritmo cardíaco que ultimamente tem merecido mais atenção, refere Shehata, é a paragem cardíaca súbita – uma perda inesperada da função cardíaca, que é fatal para 90% das pessoas afetadas (morrerão dentro de 10 minutos após a paragem cardíaca), a menos que, segundo Sumeet Chugh, diretor médico do Centro de Ritmo Cardíaco em Cedars-Sinai, alguém lá esteja lá para fazer as manobras de reanimação ou para colocar um desfibrilhador.
“Isto sublinha o significado de os cidadãos estarem melhor preparados, mais instruídos e dispostos a fazer a sua parte para ajudar a evitar que estas paragens cardíacas se tornem eventos letais”, diz Chugh. “Sublinha também o papel vital da investigação para mover a agulha na compreensão de quem está em maior risco para esta condição, para que possamos ter um impacto real na prevenção de paragens cardíacas súbitas.”
Avanços recentes para quem sofre de distúrbios do ritmo cardíaco
Têm sido muitos os avanços, capazes de salvar vidas. Um destes é o pacemaker sem chumbo, dispositivo miniaturizado, que pode ser implantado diretamente no coração e fixado à parede do músculo cardíaco sem risco de infeções no local cirúrgico ou outras complicações.
Estes pequenos pacemakers substituem um pacemaker inteiro, o que exigia uma bateria e múltiplos fios que eram introduzidos no peito e podiam causar infeções e outras complicações. O dispositivo funciona estimulando o músculo cardíaco durante um intervalo de tempo de contração, o que ajuda a melhorar a contratilidade global, ou aperto do coração.
Há ainda procedimentos de ablação de cateteres, que utilizam cateteres de uma forma minimamente invasiva. Aqui, os clínicos podem chegar ao coração a partir de veias na virilha e mapear as áreas do coração responsáveis por distúrbios do ritmo cardíaco, utilizando depois uma energia de radiofrequência ou um balão de congelação para bloquear ou remover tecido nocivo.
Mas a principal causa de morte de pacientes com fibrilhação auricular pode não ser a perturbação do ritmo cardíaco em si, mas o AVC. Uma elevada percentagem de acidentes vasculares cerebrais estão diretamente relacionados com a formação de coágulos durante ou após estas perturbações do ritmo cardíaco. Para os doentes com fribrilhação auricular que não toleram a toma de medicamentos para diluir o sangue para toda a vida, os clínicos têm agora dispositivos novos que podem prevenir a formação de coágulos.
Finalmente, os métodos atuais de identificação de doentes de alto risco que se qualificam para um dispositivo salva-vidas (cardioversor-desfibrilhador implantável) estão a mostrar rendimentos decrescentes. Os médicos do Cedars-Sinai desenvolveram um algoritmo que, pela primeira vez, distingue entre as formas tratáveis de paragem cardíaca súbita e as formas não tratáveis da doença. Os resultados, recentemente publicados na revista Journal of the American College of Cardiology, têm o potencial de melhorar a prevenção da paragem cardíaca súbita e a perda inesperada da função cardíaca, com base em fatores de risco-chave.