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Estudo confirma: dietas à base de plantas são melhores para a saúde e para o clima

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As dietas vegetarianas e veganas estão associadas a níveis mais baixos de colesterol e gorduras no sangue, mostra um estudo, que analisou todas as provas de ensaios aleatórios publicados desde 1982.

Os autores do estudo, publicado no European Heart Journal, afirmam que isto significa que as dietas à base de plantas podem desempenhar um papel significativo na redução da obstrução das artérias, diminuindo assim o risco de doenças do coração e dos vasos sanguíneos, como acidentes vasculares cerebrais e ataques cardíacos.

Os investigadores analisaram 30 ensaios aleatórios com um total de 2.372 participantes, publicados entre 1982 e 2022, que quantificaram o efeito de dietas vegetarianas ou veganas versus dietas omnívoras nos níveis de todos os tipos de colesterol (colesterol total), colesterol de lipoproteínas de baixa densidade (colesterol LDL, frequentemente conhecido como “mau” colesterol), triglicéridos (um tipo de gordura ou “lípido” encontrado no sangue) e apoliproteína B (uma proteína que ajuda a transportar a gordura e o colesterol no sangue e é um bom indicador da quantidade total de gorduras e colesterol maus no organismo).

Apesar de anteriores meta-análises terem investigado esta questão, nenhuma foi publicada desde 2017, nenhuma abordou o impacto do continente, da idade e do índice de massa corporal e do estado de saúde.

“Descobrimos que as dietas vegetarianas e veganas estavam associadas a uma redução de 14% em todas as lipoproteínas que obstruem as artérias”, refere Ruth Frikke-Schmidt, especialista do Rigshospitalet, em Copenhaga, Dinamarca, que conduziu o estudo juntamente com a estudante de medicina Caroline Amalie Koch e Emilie Westerlin Kjeldsen, também do Rigshospitalet.

“Isto corresponde a um terço do efeito da toma de medicamentos para baixar o colesterol, como as estatinas, e resultaria numa redução de 7% do risco de doença cardiovascular em alguém que mantivesse uma dieta à base de plantas durante cinco anos. O tratamento com estatinas é superior às dietas à base de plantas na redução das gorduras e dos níveis de colesterol. No entanto, um regime não exclui o outro, e a combinação de estatinas com dietas à base de plantas é suscetível de ter um efeito sinérgico, resultando num efeito benéfico ainda maior”, acrescenta.

“Se as pessoas começarem a seguir uma dieta vegetariana ou vegana desde tenra idade, o potencial de redução do risco de doenças cardiovasculares causadas por artérias obstruídas é substancial. É importante salientar que encontrámos resultados semelhantes em todos os continentes, idades, diferentes intervalos de índice de massa corporal e entre pessoas em diferentes estados de saúde.”

As vantagens das dietas à base de plantas

Os participantes nos 30 estudos foram divididos de forma aleatória: uns seguiram uma dieta vegetariana ou vegan, os outros continuaram com uma dieta omnívora (que inclui carne e produtos lácteos). O tempo de duração das dietas variou entre dez dias e cinco anos, com uma média de 29 semanas.

Em comparação com as pessoas que seguiam uma dieta omnívora, as que optaram por uma dieta à base de plantas registaram uma redução média de 7% nos níveis de colesterol total em relação aos níveis medidos no início dos estudos e uma redução de 10% nos níveis de colesterol LDL.

“Observámos efeitos significativos tanto nas dietas vegetarianas como nas veganas e em pessoas com um peso normal ou obeso”, afirma Frikke-Schmidt.

Opção amiga do ambiente

Mais de 18 milhões de pessoas morrem anualmente de doenças cardiovasculares em todo o mundo, sendo a principal causa de morte, o que levou a Agenda de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas a definir que as mortes prematuras por doenças não transmissíveis, como as doenças cardiovasculares, deveriam ser reduzidas num terço até 2030. Além disso, há uma maior atenção ao efeito do que comemos no ambiente.

“Revisões sistemáticas recentes mostraram que, se as populações dos países de elevado rendimento passarem a adotar dietas à base de plantas, isso pode reduzir as emissões líquidas de gases com efeito de estufa entre 35% e 49%. O nosso estudo fornece provas sólidas de que as dietas à base de plantas são boas para a nossa saúde, para pessoas de diferentes tamanhos, idades e condições de saúde”, refere a especialista.

“Além disso, as populações a nível mundial estão a envelhecer e, consequentemente, o custo do tratamento de doenças relacionadas com a idade, como as doenças cardiovasculares ateroscleróticas, está a aumentar. As dietas à base de plantas são instrumentos fundamentais para mudar a produção alimentar para formas mais sustentáveis do ponto de vista ambiental, reduzindo ao mesmo tempo o peso das doenças cardiovasculares. Devemos comer uma dieta variada e rica em plantas, não em excesso, e saciar a nossa sede com água.”

Frikke-Schmidt e os seus colegas não puderam avaliar os potenciais benefícios das dietas que comparam diretamente peixe com dietas omnívoras devido à falta de estudos deste tipo na literatura científica. “No entanto, a dieta mediterrânica é rica em alimentos à base de plantas e peixe e está bem estabelecida como sendo benéfica nas diretrizes dietéticas”, afirma.

Kevin Maki, professor da Indiana University School of Public Health Bloomington e da Midwest Biomedical Research, nos EUA, e Carol Kirkpatrick, da Midwest Biomedical Research e da Idaho State University, que não estiveram envolvidos na investigação, comentam num editorial que acompanha o estudo que “os resultados vêm juntar-se ao conjunto de provas que apoiam os efeitos favoráveis a uma alimentação vegana e vegetariana saudável nos níveis circulantes de colesterol LDL e de lipoproteínas aterogénicas, o que se espera que reduza o risco de doença cardiovascular aterosclerótica. Embora não seja necessário omitir totalmente alimentos como carne, aves e peixe/marisco para seguir um padrão alimentar recomendado, a redução do consumo desses alimentos é uma opção razoável para aqueles que preferem fazê-lo”.

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