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Risco de queda é maior para os idosos com doença de Alzheimer assintomática

alzheimer e quedas

As quedas são a principal causa de lesões fatais em adultos mais velhos. Alguns fatores de risco são bem conhecidos, como a idade avançada, problemas de visão ou equilíbrio e fraqueza muscular, mas um fator pouco reconhecido é a doença de Alzheimer precoce. Os idosos nos estágios iniciais da doença, antes do surgimento dos problemas cognitivos, têm maior probabilidade de sofrer uma queda.

Investigadores da Escola de Medicina da Universidade de Washington, nos EUA, descobriram que, nas pessoas mais idosas sem problemas cognitivos que sofrem uma queda, o processo neurodegenerativo que leva à demência de Alzheimer pode já ter começado.

As descobertas, disponíveis online no Journal of Alzheimer’s Disease, sugerem que os idosos que sofreram quedas devem ser examinados para Alzheimer e que novas estratégias podem ser necessárias para reduzir o risco de queda entre as pessoas que se encontram nos estágios iniciais da doença.

“No mundo da investigação sobre quedas, costumamos dizer que a pessoa corre o risco de cair se perder força e equilíbrio”, refere a coautora do estudo, Susan Stark, professora de terapia ocupacional, neurologia e serviço social naquela instituição.

“Se perder força e equilíbrio, o tratamento recomendado é trabalhar a força e o equilíbrio. Mas se alguém está a cair por outro motivo, talvez porque o seu cérebro começou a acumular danos associados ao Alzheimer, essa pessoa pode precisar de um tratamento totalmente diferente. Ainda não sabemos qual, mas esperamos poder usar estas informações para chegar a novas recomendações de tratamento que irão reduzir o risco de quedas nesta população”, acrescenta.

Risco de queda duas vezes maior

Em 1987, foi descoberto que os idosos com Alzheimer apresentavam duas vezes mais probabilidade de sofrer uma queda traumática do que as pessoas da mesma idade sem demência. 

Desde então, há mais de três décadas, os cientistas descobriram que o cérebro das pessoas com Alzheimer começa a sofrer mudanças décadas antes de a perda de memória e confusão se tornarem aparentes.

Primeiro, formam-se placas de proteínas amiloides, depois emaranhados de proteína tau. Algumas áreas do cérebro começam a encolher e as redes de comunicação entre partes distantes do cérebro começam a deteriorar-se.

Stark e os seus colegas demonstraram que a ligação entre Alzheimer e quedas é verdadeira mesmo durante a fase silenciosa da doença: pessoas com o chamado Alzheimer pré-clínico têm maior risco de cair, apesar de não apresentarem problemas cognitivos aparentes.

Para entender melhor porque é que as pessoas sem sintomas cognitivos correm o risco de cair, a primeira autora deste trabalho, Audrey Kelemen, e os colegas acompanharam 83 pessoas com mais de 65 anos ao longo de um ano.

Todos os participantes foram avaliados por um neurologista qualificado no início do estudo e cada um preencheu calendários mensais, onde registou quaisquer quedas e realizou exames cerebrais em busca de sinais de atrofia e conectividade reduzida.

Os investigadores descobriram que a presença de amiloide no cérebro por si só não aumenta o risco de queda, mas a neurodegeneração sim.

Os participantes que caíram tinham hipocampos menores – regiões do cérebro que são dedicadas à memória e que encolhem na doença de Alzheimer. As suas redes de conexões envolvidas nos dados sensoriais e no controlo do movimento mostravam também sinais de decadência.

E concluíram, por isso, que a queda é mais provável de ocorrer nos últimos cinco anos ou mais antes do início dos sinais de perda de memória e confusão.

“Desde que comecei a trabalhar neste projeto, comecei a perguntar aos meus doentes sobre quedas, e não posso dizer com que frequência isso me ajudou a começar a entender o que está a acontecer com eles”, afirma o coautor sénior Beau M Ances.

“Quando a mobilidade de uma pessoa está a diminuir, mesmo que a pessoa pareça muito normal, isso pode ser um sinal de que algo precisa de avaliação adicional”, reforça. “Na verdade, é um marcador potencial muito importante que nos deve fazer dizer: ‘Espere um minuto. Vamos olhar melhor para isto. Haverá outras coisas associadas?'”

Reforçar a segurança para os doentes de Alzheimer

Os investigadores deram início a novas experiências que procuram perceber melhor porque é que as mudanças cerebrais nos casos de Alzheimer colocam as pessoas em risco de queda, para que possam desenvolver recomendações no sentido da prevenção. 

“Será possível prevenir muitas quedas apenas ao tornar o ambiente mais seguro”, refere Stark.” Mudanças simples podem ajudar: certificando-se de que a banheira não é escorregadia, de que a pessoa se pode levantar facilmente da mesma, com treino de equilíbrio e força, revendo as prescrições para ver se certos medicamentos ou combinações de medicamentos estão a aumentar o risco de queda. Até que tenhamos tratamentos específicos de prevenção de quedas para pessoas com Alzheimer pré-clínico, ainda há muitas coisas que podemos fazer para melhorar a sua segurança.”

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