Seis em cada dez pessoas em Portugal têm falta de dentes – pelo menos um dente natural – e mais de metade não substitui a dentição perdida, revelam os dados da 8ª edição do barómetro da Saúde Oral 2023, realizado pela Ordem dos Médicos Dentistas.
O relatório avança ainda que 22,8% não têm seis ou mais dentes, número considerado de referência para afetação da qualidade da mastigação e da saúde oral. Destes, 18,2% não têm nada a substituir qualquer dente.
De acordo com os dados do barómetro, apenas 41,1% dos 1102 inquiridos apresentam dentição completa, à exceção dos dentes do siso, embora este valor represente uma evolução positiva face a anos anteriores.
Para o bastonário Miguel Pavão, os 59% sem pelo menos um dente, os 49,9% sem qualquer prótese dentária e os 22,8% sem seis ou mais dentes são razões mais do que suficientes para um reforço das atuais políticas de saúde oral. “São números preocupantes, que demonstram a urgência da concretização de medidas há muito apresentadas pela Ordem como é a criação do cheque-dentista prótese e a criação de uma carreira especial no SNS capaz de atrair estes profissionais.”
A preocupação com os dentes
Os dados permitem concluir que apenas 2% da população portuguesa acede através do Serviço Nacional de Saúde (SNS) a consultas de medicina dentária ou via Cheque-Dentista. A esmagadora maioria (98%) acedem através do setor privado, via seguros e planos de saúde ou subsistemas de saúde. Uma das razões que ajuda a explicar esta diferença reside no facto de 66,8% da população desconhecer que o SNS disponibiliza serviços de medicina dentária, um valor que se agravou consideravelmente, quando comparado com os 55,9% de 2022.
“A medicina dentária tem sido apresentada como uma bandeira no setor da saúde, mas a verdade é que não há uma estratégia para a saúde oral. Basta referir que a verba consagrada no Orçamento do Estado para a Saúde Oral é de 30 milhões de euros, num total de 15 mil milhões”, afirma Miguel Pavão.
Sobre os hábitos de saúde oral, o barómetro indica que 78,8% dos inquiridos garantem escovar os dentes pelo menos duas vezes por dia, ou seja, um aumento de 5,7 pontos percentuais face a 2022. Apesar deste elemento positivo, os dados revelam que houve uma diminuição (-3 p.p.) do número de pessoas que visitam o médico dentista pelo menos uma vez por ano: 64,4% em 2023, quando no ano anterior eram 67,4%.
Constata-se também que aumentou a percentagem de pessoas que nunca visitam o médico dentista ou o fazem apenas em situações de urgência (26,9% +2,4p.p.).
Entre quem não foi ao médico dentista no último ano, a maior parcela é da população com 65 ou mais anos (54%). Também relevante é a relação direta entre escolaridade e regularidade de visitas ao médico dentista: quanto menor for a escolaridade, menor a regularidade.
Quanto a menores de seis anos que nunca foram ao médico dentista, a percentagem voltou a diminuir pelo segundo ano consecutivo. Em 2021 era 73,4%, em 2022 passou a 65,2% e, em 2023 ficou-se pelos 53,5%.