Um estudo sobre cancro infantil e em adultos jovens de Inglaterra verificou que menos pessoas foram diagnosticadas durante a pandemia de COVID-19, mas mais foram internadas em cuidados intensivos. E alerta para necessidade de reforço da atenção aos casos de cancro nos mais pequenos.
Apresentada no NCRI Festival, o estudo mostra ainda que as crianças que foram diagnosticadas com cancro durante a primeira vaga da pandemia tiveram uma probabilidade maior de internamento em cuidados intensivos antes do seu diagnóstico, descobertas que sugerem que a COVID-19 teve um efeito prejudicial no diagnóstico precoce de cancro em crianças e jovens.
O estudo foi apresentado por Defne Saatci, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, que não tem dúvidas que “identificar precocemente o cancro infantil e dar início ao tratamento de imediato dá às crianças e aos jovens a melhor probabilidade de sobrevivência. Já sabemos que a pandemia de COVID-19 levou a atrasos preocupantes no diagnóstico e tratamento de muitos adultos com cancro e, por isso, queríamos entender como tinha afetado estes serviços para as crianças”.
Dobro da probabilidade de casos mais graves de cancro infantil
Saatci e os colegas usaram um banco de dados de clínica geral para estudar o número de diferentes tipos de cancro infantil e os casos diagnosticados em adultos jovens com idade até 25 anos na primeira vaga da pandemia, entre 1 de fevereiro e 15 de agosto de 2020. E compararam-nos com os diagnósticos durante o mesmo período nos três anos anteriores à pandemia, analisando ainda o tempo entre o diagnóstico e o início do tratamento e se as pessoas foram diagnosticadas após serem admitidas nos cuidados intensivos.
Ao todo, durante a primeira vaga, os investigadores contaram 380 pessoas diagnosticadas com tumor cerebral, linfoma, leucemia, sarcoma ou tumor renal, um valor aproximadamente 17% inferior ao verificado nos anos anteriores.
E descobriram que o tempo médio entre o diagnóstico e o início do tratamento foi ligeiramente mais curto durante a primeira vaga de COVID-19, mas que as crianças tinham duas vezes mais probabilidade de serem admitidas em cuidados intensivos antes de o seu tumor ser diagnosticado.
Julia Hippisley-Cox, investigadora da Universidade de Oxford, confirma que “foram admitidas mais crianças nos cuidados intensivos antes do diagnóstico de cancro infantil durante a pandemia. Uma possível explicação é que essas crianças esperaram mais para ir ao médico e, por isso, podem ter estado mais doentes no momento do diagnóstico. Juntamente com os números mais baixos de diagnósticos de cancro na primeira vaga, este estudo sugere que a COVID-19 pode ter tido um sério impacto no diagnóstico precoce neste grupo de pacientes”.
“Enquanto recuperamos da pandemia, é essencial que tenhamos o diagnóstico de cancro infantil e juvenil de volta ao normal o mais rápido possível.”
Pamela Kearns, professora de Oncologia Pediátrica Clínica da Universidade de Birmingham, Reino Unido, não esteve envolvida neste estudo. Mas sabe que “a pandemia de COVID-19 teve um efeito devastador no serviço de saúde como um todo e que o diagnóstico de cancro nos adultos sofreu. Este estudo sugere que a via para o diagnóstico do cancro infantil e em jovens foi também afetada e precisamos de entender melhor os motivos, que serão multifatoriais. O serviço de saúde precisa agora de se preparar para a possibilidade de aumento pós-COVID de crianças e jovens que precisam de tratamento oncológico”.
“Existem bons tratamentos disponíveis para a maioria das crianças e jovens com cancro, mas o diagnóstico precoce é essencial. Os jovens e os pais que estão preocupados com quaisquer sintomas devem falar com um médico imediatamente.”